As quadras urbanas são o espaço delimitado pelo cruzamento de três ou mais vias onde ficam os lotes para as construções de edifícios. Com o tempo, foram moldadas conforme a ocupação, muitas vezes parecendo volumes únicos e até labirintos, mas sempre simbolizando a escala do bairro. E as quadras do Centro da cidade passaram por um trabalho técnico e de grande importância realizado pela Prefeitura de Manaus e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Amazonas, desenvolvendo dois produtos que vão compor a nova Normativa do Centro Histórico (NCH), em produção pela autarquia federal.
Iniciada em maio, a construção dos produtos foi concluída pelo Implurb, pela Gerência de Patrimônio Histórico (GPH), fornecendo nove faces de quadras, 33 fachadas e 45 mapas morfológicos.
Os produtos incluem mapas e perfis atualizados de uma série de imóveis, ruas e quadras de setores e eixos inseridos na poligonal de tombamento do Centro Histórico. Tornar mais tangível e visual essas ruas e quadras é um dos objetivos, ajudando na construção da imagem da cidade, seus cheios e vazios urbanos.
Os produtos estarão disponíveis futuramente para quem desejar fazer intervenções na área, agregando informações valorosas, como configuração de quadra, a composição dos imóveis que são protagonistas, as predominâncias de altura, de desníveis e de visuais.
Técnicos
Os trabalhos envolveram técnicos do Implurb e do Iphan, compartilhando informações sobre bens, imóveis tombados, monumentos, praças, largos, características arquitetônicas, tipologias, preservação, arborização e ocupação urbana. Os órgãos estão alinhados institucionalmente para a construção, a várias mãos, de plataforma de trabalho e ações de revitalização.
“É um ganho para todos, para o Poder Público e para a sociedade. Os dados, depois de consolidados, estarão disponíveis para consulta”, explica o diretor de Planejamento Urbano do Implurb, arquiteto e urbanista Pedro Paulo Cordeiro.
Os produtos têm como base o tombamento da área, revelando detalhes das faces de quadras e mapas morfológicos. Nas faces foram trabalhadas sete ruas e 20 quadras, e nos mapas um total de 99 quadras. As faces de quarteirões representam a face ou frente de uma quadra para a via.
“O Centro Histórico é dinâmico, ele não está engessado e precisa de transformações constantes e adaptações, sem deixar de lado os valores e atributos que ele tem”, completa a superintendente do Iphan-AM, Karla Bitar.
Com as faces e mapas será possível observar a ocupação dos prédios no Centro Histórico. É a tradução das características para que esses produtos possam subsidiar não somente decisões públicas, mas ações continuadas de obras e fiscalização.
Produtos
As Faces de Quadra servirão de base referencial do NCH, contribuindo na ambiência do imóvel de preservação, visando à elaboração e complementação das faces nos setores e eixos inseridos na poligonal de tombamento, somando sete ruas e 20 quadras. Aqui são usados critérios de estado de preservação, tipologia, período arquitetônico e outros.
As faces vão compor um mapa único da quadra, informando se os edifícios são monumentais ou singulares, a qual arquitetura civil pertencem (séculos 19, 20 e 21), ou se são vilas. Os períodos arquitetônicos vão desde colonial, ecletismo, neocolonial, art déco, modernismo, recente ao contemporâneo.
Os Mapas Morfológicos terão a leitura de 99 quadras, com elaboração dos mapas de macroparcelamento do solo (quarteirão); microparcelamento do solo (lotes); ocupação do lote; praça e arborização; monumentos (marcas e visadas); e permanências e transitoriedades.
A permanência diz respeito à mobilidade e tráfego, com indicação de existência de pontos de ônibus, praças, largos, bares, restaurantes, lanchonetes, estruturas educacionais e afins. As peças servirão como instrumentos de análise e evidenciação dos atributos e características identificados, sistematizando referências para a determinação de parâmetros normativos.
Tombamento
Manaus está incluída no rol das cidades históricas do Brasil com inscrição no Livro do Tombo Histórico e no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico em razão do patrimônio singular e integro. Mesmo fragmentada, a capital apresenta tipologia arquitetônica vasta e diversificada, com representação de correntes ecléticas sem comprometimento da verticalização na percepção do espaço criado na Belle Époque.
A metrópole da borracha, dos anos 1900, abrigava uma população de 20 mil habitantes, entre suas calçadas com granito e pedras de lioz importadas de Portugal; com fontes, monumentos e o singular Teatro Amazonas.
O Centro Histórico de Manaus, tombado pelo Iphan em 2012, abrange uma área entre a orla do rio Negro e o entorno do Teatro Amazonas, que mantém aspectos simbólicos e apresenta uma fração urbana de edificações do período áureo da borracha, mesclada a edifícios modernos e representantes de uma fase econômica ímpar no Brasil.